Eros e Psique
Uma besteira, um pequeno vacilo, um leve acidente, uma rápida cirurgia,
resultado três longos meses sem andar. Sem andar, sem me locomover, parada,
paradinha. Três imensos meses sem fuder. Sim existem os vibradores, sim
existe a masturbação, mas as dores permitiam pouca criatividade e nenhum
desejo.
Restabelecida, vamos ao que importa.
Não estava com paciência para jogos, conversinhas bestas sobre
coisa nenhuma, ou pior ainda, dar muito mais do que receber. Eu estava com
fome, fome ancestral. Pensei em uma suruba, pensei em ligar para vários amigos.
Mas eu não queria a la Carte eu queria um rodízio, eu queria ser servida
incessantemente, eu queria um profissional.
É um serviço complicado, não é como pedir uma pizza, uma escova no
cabelo ou fazer uma compra pela internet, envolve algo mais profundo, digamos
assim. Envolve medos e riscos.
Conheci Ele em um dia triste, no
dia que um jovem rapaz me mandou ser feliz com outro alguém. Eu chorava tanto
que tive que tomar soro para reidratar. Estava na Adega Pérola tomando uma
cachaça e usando o pano de balcão como lenço quando Ele chegou. Chora não moça,
arranja outro.
- Tem
outro não moço, nunca mais vai ter outro (abestalhada)
- Vai sim.
- Como
você sabe que estou chorando por causa de homem?
- O
soluçar é característico, eu cuido muito de casos assim.
- Você é
terapeuta?
- Faço programa.
- Hein?
- Sou
garoto, no caso, senhor de programa.
Pense
numa pessoa cujas lágrimas secaram em 1 segundo.
- No caso,
a gente paga para dar para o senhor?
- Não,
você paga para que eu te coma e te faça gozar como nunca.
- Moço,
estou com tanta dor no meu coração que nem vontade de fuder eu tenho.
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cachaças depois ele me convenceu do contrário, e me deu uma amostra grátis do
seu trabalho, podemos dizer assim. Claro que viramos amigos, vocês sabem que
bons profissionais são difíceis de achar. Que pena que o plano de saúde não
faça cobertura desse tipo de atendimento.
Ele, chegou aqui na cidade há 6 anos, veio de tão longe que nem
tinha no mapa o longe que era. Veio atrás de uma moça que disse para ele que
aqui era o lugar onde tudo acontecia. Trouxe o que tinha, o que não tinha
deixou. Na partida ficaram tristes apenas umas duas primas, uma tia mais velha,
a viúva da rua de cima, a viúva da rua de baixo, o sacristão e dizem que uma cabritinha ficou dias olhando para a estrada
com olhar entristecido. Chegou e foi tudo bom, no primeiro mês. No segundo o
amor foi acabando, junto com o dinheiro. No terceiro o sexo foi rareando, no
quarto mês ela foi muito sincera e mandou ele embora.
Ele sempre foi bom de conta, pelas contas dele não ia sobreviver
na cidade e voltar para a cabritinha não era um bom projeto. Se fez valer do
único talento que tinha. Era um talento que duro media exatamente 22,5
centímetros (Eu medi). Viveu do talento dele durante uns anos, foi se
entendendo na cidade, foi percebendo que só o talento não basta e foi aprumando
a vida. Resumo, virou gerente de banco, o talento maior guarda para
ocasiões especiais. Considerei meu caso uma ocasião especial. Era dele que eu
precisava.
Ensaiei o texto antes de telefonar, um medinho bateu, em caso de
insatisfação que Procon iria me reembolsar? Que orgão público recorrer? Órgão
no sentido de instituição.
Marcado, valor acertado. Tudo certo. Certo?
Os
preparativos de sempre, resolvi inovar depilação completa. (Conselho para as
amigas, pensem bem antes de fazer, os grande lábios ficam em chamas).
Chegou
na hora, Motel perto de casa. Vinho para acalmar.
Pouco
antes de tirar minha roupa em apenas um segundo ele disse
- Aqui
quem precisa agradar sou eu, você relaxa e aproveita.
Agora me
diga se a pessoa relaxa numa situação dessas?
Talento
é tudo, já fui chupada antes, como todos nós sabemos, mas deste jeito nunca,
com este conhecimento de causa? Com esta vontade de me fazer feliz? Aquela boca
no meu peito, no peito que há meses não sabia o que era uma boca, e aquela boca
na minha boca? Os dedos dele tateando a minha buceta como que preparando o
caminho para o que vinha. Nunca fui tão egoísta na minha vida, só pensei em mim
e fui feliz. Profissionalismo é tudo. O famoso pau de 22,5 centímetros mostrou
a que veio, incansável foi entrando e se fazendo em casa. Primeiro só aquela
cabeça imensa e quase roxa massageando o clitóris, depois forçando a entrada,
eu zonzinha pedindo pelo amor de Zeus para não parar. O pau inteiro dentro de
mim saindo e entrando de acordo com a minha vontade. Preocupado, escolheu as posições mais
confortáveis, foi generoso, foi atento. Foi foda. Ele gozou tranquilamente
enquanto eu ouvia um zumbido como num porre de lança-perfume. No final do
terceiro ou quarto gozo pensei que este serviço deveria ser oferecido pelo
estado. Viúvos e viúvas, pessoas solitárias, pessoas com dificuldade de
locomoção, tímidos em geral, tipo um bolsa-trepada.
É
estranho não ter conversa, estranho não ter "beijo, me liga", mas é
bom não ter mentiras. É bom ser prático.
Felicidade não se
compra, fato. Mas podemos alugar momentos felizes.